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Avaliação de riscos psicossociais

Avaliação de riscos psicossociais RT
Artigo sobre avaliação de riscos psicossociais relacionados ao trabalho.

Seja bem vindo a mais um artigo técnico aqui no DDS Online. Nosso tema de hoje será: avaliação de riscos psicossociais. Eu sou Herbert Bento, criador desse site, e também dos Pendrives de Segurança do Trabalho.

No nosso dia a dia, estamos acostumados a lidar com riscos bem visíveis: uma máquina sem proteção, um produto químico perigoso, um trabalho em altura.

Mas e quando o risco não pode ser visto ou medido com um aparelho? E se o perigo estiver no estresse, na sobrecarga de trabalho ou nos conflitos entre colegas?

Bem-vindo ao mundo dos Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho (RP-RT). Eles são mais comuns do que imaginamos e afetam não só a saúde mental e física do trabalhador, mas também os resultados da empresa.

A boa notícia é que a legislação trabalhista mais recente deixou claro que eles precisam fazer parte do nosso Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).

Este guia sobre avaliação de riscos psicossociais foi criado para você, Técnico em Segurança do Trabalho, que está na linha de frente. Vamos desmistificar o tema e mostrar um caminho prático para identificar, avaliar e começar a controlar esses riscos na sua empresa.

O que são riscos psicossociais e por que eles importam?

Vamos simplificar. Pense nos Fatores Psicossociais do Trabalho (FPT) como os ingredientes de uma receita. Esses “ingredientes” são a forma como o trabalho é organizado, as relações sociais na empresa, o ambiente, os equipamentos e as tarefas.

Avaliação de riscos psicossociais
Avaliação de riscos psicossociais

Eles incluem coisas como:

  • Carga e ritmo de trabalho;
  • Horários e turnos;
  • Nível de autonomia (o quanto o trabalhador pode decidir sobre seu próprio trabalho);
  • Relacionamento com chefes e colegas;
  • Cultura da empresa (como as coisas são feitas por aqui);
  • Suporte da liderança e dos colegas.

Quando esses “ingredientes” são ruins ou mal combinados, eles podem virar um risco. É aí que surgem os Riscos Psicossociais (RP-RT). Eles nascem da interação ruim entre as condições de trabalho e as características do trabalhador. Pense neles como a consequência negativa: estresse crônico, esgotamento (burnout), ansiedade, depressão e até problemas físicos como pressão alta e dores de cabeça.

O impacto vai além do indivíduo. Para a empresa, esses riscos se transformam em absenteísmo, alta rotatividade de funcionários, queda na produtividade e na qualidade, e um clima organizacional ruim. Ou seja, cuidar da saúde mental no trabalho não é “frescura”, é gestão estratégica e uma obrigação legal.

O grande desafio: por que não existe “receita de bolo”?

Aqui está o ponto mais importante que você precisa entender: não existe uma ferramenta única, um questionário mágico que vai resolver o problema em todas as empresas. Tentar aplicar uma solução genérica é como usar um “emplastro” que não cura a ferida de verdade.

A avaliação de riscos psicossociais exige sensibilidade e uma análise profunda do contexto. Cada empresa é um universo diferente. O que é um fator de estresse em um lugar, pode não ser em outro. Vamos ver dois exemplos práticos:

  1. a cultura da empresa: imagine uma empresa com uma cultura de gestão muito autoritária e centralizadora. Em alguns contextos, isso pode ser visto como “normal”. Em outra empresa, com uma cultura mais moderna e colaborativa, esse mesmo estilo de gestão seria um gatilho para conflitos e estresse, um risco psicossocial altíssimo.
  2. o perfil dos trabalhadores: as pessoas são diferentes. Um prazo de entrega muito apertado pode ser um fator de grande ansiedade para um trabalhador mais jovem e com menos experiência. Já um profissional mais experiente pode ter mais resiliência para lidar com essa mesma pressão. O pessoal do administrativo tem desafios diferentes do pessoal da operação. Por isso, a avaliação precisa considerar quem são as pessoas que compõem a organização.

Como começar? Guia prático para a avaliação de riscos psicossociais

Ok, já entendemos o “quê” e o “porquê”. Agora vamos ao “como”.

Realizar uma avaliação de riscos psicossociais relacionados ao trabalho (ARP-RT) é um processo. O objetivo é identificar os fatores de risco, entender como eles afetam os trabalhadores e, claro, propor medidas de controle.

Passo 1: monte seu time (equipe multidisciplinar)

Você não está sozinho nessa. A avaliação de riscos psicossociais é um trabalho de equipe. O ideal é contar com o apoio de diferentes profissionais que, juntos, terão uma visão mais completa. Chame para a conversa:

  • O pessoal do SESMT (Médico, Enfermeiro, Engenheiro);
  • Profissionais de RH;
  • Ergonomistas;
  • Psicólogos organizacionais.

Passo 2: escolha suas ferramentas (o método certo)

A escolha do método é estratégica. Não adianta usar um termômetro para medir ruído. Aqui, a lógica é a mesma. Você tem basicamente três caixas de ferramentas:

  • Métodos quantitativos (os números): são questionários e escalas padronizadas. Eles são ótimos para ter uma “fotografia” geral da empresa, medir a percepção de risco em grandes grupos e comparar áreas. O ponto fraco é que eles podem não capturar os detalhes e as razões por trás dos números.
  • Métodos qualitativos (a conversa): aqui entram as entrevistas, as conversas em grupo (grupos focais) e a observação direta do trabalho. Essas ferramentas são poderosas para entender a fundo a percepção, os sentimentos e as experiências dos trabalhadores. Permitem descobrir riscos que não aparecem nos questionários. O desafio é que exigem mais tempo e habilidade para interpretar os resultados.
  • Abordagem híbrida (o melhor dos dois mundos): essa é, na maioria das vezes, a melhor opção. Você pode, por exemplo, aplicar um questionário (quantitativo) para toda a empresa para identificar os setores ou os temas mais críticos. Depois, organizar conversas em grupo (qualitativo) nesses setores para aprofundar a investigação e entender a causa raiz dos problemas.

Passo 3: a peça-chave do processo é o trabalhador

Nenhuma avaliação será eficaz sem o envolvimento ativo de quem vive o trabalho no dia a dia. Trazer o trabalhador para o processo não é apenas uma formalidade, é fundamental para o sucesso. Por quê?

  • Gera confiança e engajamento: quando os trabalhadores participam, eles se sentem ouvidos e valorizados, e tendem a aceitar e colaborar mais com as soluções propostas.
  • Traz a visão da realidade: eles conhecem os detalhes do trabalho que nenhum gerente ou método formal consegue captar.
  • Fortalece a cultura de segurança: cria um ambiente de transparência e confiança, essencial para a gestão de qualquer risco.

Passo 4: mãos à obra (coletando as informações)

As boas práticas e normas técnicas, que são grandes referências no assunto, dão ótimas dicas do que fazer para identificar os perigos psicossociais de forma contínua e proativa. Pense nisso como um checklist para sua investigação:

  • Revise os papéis: analise as descrições de cargo, os relatórios de acidentes e incidentes, os dados de absenteísmo e rotatividade da empresa. Esses documentos são uma mina de ouro de informações.
  • Observe o ambiente: vá a campo. Faça inspeções e observe como o trabalho é realmente executado, como os colegas e as lideranças interagem.
  • Converse com as pessoas: realize entrevistas individuais ou em grupo. Use listas de verificação (checklists) para guiar a conversa. Consulte os trabalhadores em intervalos regulares.
  • Use as ferramentas certas: aplique pesquisas, questionários padronizados e analise os resultados das avaliações de desempenho.

Transformando avaliação em ação concreta

Lembre-se: a avaliação não é o fim, é o começo. Ela é a base para a ação. De nada adianta ter um relatório completo na gaveta. O objetivo final é usar essas informações para criar um plano de ação com medidas preventivas e corretivas.

Avaliação de riscos psicossociais
Avaliação de riscos psicossociais na prática

Uma boa avaliação vai te dar uma lista de riscos priorizados, mostrando onde o problema é mais grave e onde você deve focar seus esforços. O resultado final esperado é um ambiente de trabalho mais saudável, seguro e produtivo.

Investir na gestão de riscos psicossociais é mais do que cumprir a lei. É um investimento na qualidade de vida das pessoas e na saúde da própria organização.

Proteger a saúde mental no trabalho é uma responsabilidade de todos nós e exige conhecimento, sensibilidade e, acima de tudo, ação contínua. Agora, você tem um caminho mais claro para começar. Mãos à obra!

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