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Solventes: riscos e prevenção

DDS sobre solventes
Solventes: entenda seus tipos, efeitos, formas de exposição e medidas práticas de prevenção.

Opa! Seja bem vindo ao DDS Online. Eu sou o Herbert Bento e hoje vamos falar sobre solventes.

Os solventes são substâncias químicas muito usadas em diversos setores produtivos, como indústrias de tintas, vernizes, colas, limpeza, laboratórios e oficinas mecânicas.

Sua principal função é dissolver, diluir ou dispersar outras substâncias, facilitando processos de fabricação, limpeza ou manutenção.

Apesar da utilidade, os solventes representam um grupo de agentes químicos com elevado potencial de risco à saúde e à segurança do trabalhador.

Muitos deles são voláteis, inflamáveis e tóxicos, o que exige uma abordagem preventiva e sistemática de controle.

Em um ambiente de trabalho, o contato com solventes pode ocorrer de diferentes formas

  • por inalação de vapores,
  • absorção pela pele ou
  • ingestão acidental.

A exposição repetida, mesmo em pequenas quantidades, pode causar efeitos cumulativos e levar a doenças ocupacionais graves, especialmente em órgãos como fígado, rins e sistema nervoso central.

Por isso, compreender o que são os solventes, como atuam no organismo e quais medidas devem ser adotadas para reduzir os riscos é fundamental para todos os profissionais da área de segurança do trabalho. Esse conhecimento permite identificar perigos, adotar controles eficazes e promover um ambiente laboral mais seguro e saudável.

Classificação dos solventes

Os solventes podem ser classificados de diversas formas, mas, na prática da segurança do trabalho, é comum organizá-los segundo sua composição química e origem.

Essa classificação ajuda o profissional a entender o comportamento das substâncias, prever seus riscos e definir medidas de controle adequadas.

Solventes orgânicos

São os mais utilizados na indústria. Derivam do carbono e do hidrogênio, podendo conter oxigênio, nitrogênio, enxofre ou halogênios. Apresentam alto poder de dissolução e, em geral, alta volatilidade, o que aumenta o risco de inalação e de inflamabilidade.

Principais grupos de solventes orgânicos:

  • Hidrocarbonetos alifáticos: como a gasolina, o hexano e o heptano. Usados em desengraxe e limpeza.
  • Hidrocarbonetos aromáticos: como tolueno, xileno e benzeno. São potentes solventes, porém altamente tóxicos — o benzeno, por exemplo, é cancerígeno.
  • Álcoois: etanol, metanol, isopropanol. Solventes de evaporação rápida, utilizados em tintas e produtos de limpeza.
  • Cetonas e ésteres: acetona, metil-etil-cetona (MEK), acetato de etila. Muito comuns em vernizes e removedores.
  • Clorados: tricloroetileno e percloroetileno. Usados em limpeza a seco e desengraxe metálico, mas com alto potencial tóxico.

Solventes inorgânicos

São menos comuns, mas também importantes. Incluem substâncias como água, amônia e ácidos diluídos. Apesar de parecerem menos perigosos, alguns podem causar queimaduras químicas ou reações violentas com outros compostos.

Misturas de solventes

Em muitos produtos comerciais, o solvente não é uma substância única, mas sim uma mistura de vários componentes para otimizar a eficiência da dissolução e o tempo de secagem. Essas misturas podem gerar sinergias tóxicas, aumentando os efeitos sobre a saúde mesmo em concentrações aparentemente baixas.

Formas de exposição

A exposição a solventes pode ocorrer de várias maneiras dentro do ambiente de trabalho, dependendo do tipo de produto utilizado e do processo em que ele é aplicado.

É importante entender essas vias de entrada para adotar medidas eficazes de prevenção e controle.

Inalação

É a forma mais comum de exposição. Por serem substâncias voláteis, os solventes liberam vapores que se misturam ao ar, especialmente em locais com ventilação inadequada.

A inalação desses vapores pode causar irritação nas vias respiratórias, tontura, sonolência, náusea e, em casos mais graves, intoxicação aguda.

A exposição crônica pode levar a danos neurológicos e hepáticos.

Absorção cutânea

Alguns solventes conseguem penetrar pela pele, principalmente quando há contato direto e prolongado com o produto. Isso é comum em trabalhadores que manuseiam tintas, desengraxantes ou produtos de limpeza sem o uso de luvas adequadas.

Além de irritações e dermatites, certos solventes, como o tolueno e o benzeno, podem ser absorvidos pela corrente sanguínea e causar efeitos sistêmicos.

Ingestão acidental

Embora menos frequente, pode ocorrer por má higiene pessoal, como comer, beber ou fumar em áreas onde há manipulação de solventes.

Também pode acontecer quando o produto é armazenado em recipientes sem rótulo ou reaproveitados indevidamente, o que leva à ingestão acidental.

Por exemplo, em oficinas mecânicas é comum que mecânicos se contaminem por esse via, devido ao hábito de ingerir alimentos nos locais de trabalho, sem a devido limpeza das mãos.

Contato ocular

O respingo de solventes nos olhos causa irritação, lacrimejamento e queimaduras químicas. O risco aumenta quando não há uso de óculos de proteção ou quando o produto é manipulado acima da altura dos ombros.

Agora que você entende as formas de exposição, fica mais simples de compreender que esse é o primeiro passo para planejar estratégias de prevenção, por exemplo, o uso de EPIs adequados até a implementação de sistemas de ventilação e boas práticas de trabalho.

Efeitos sobre a saúde

Os solventes exercem uma ampla gama de efeitos sobre o organismo humano, dependendo do tipo de substância, da concentração e do tempo de exposição. Esses efeitos podem ser agudos (manifestam-se logo após o contato) ou crônicos (surgem após exposições repetidas ao longo do tempo).

Efeitos agudos

A exposição intensa e de curta duração a vapores de solventes pode causar:

  • Irritação das vias respiratórias e dos olhos;
  • Tontura, dor de cabeça e sonolência devido à ação depressora sobre o sistema nervoso central;
  • Náuseas e vômitos;
  • Em casos mais severos, perda de consciência e risco de parada respiratória.

Esses sintomas geralmente desaparecem com o afastamento da exposição, mas indicam que o ambiente de trabalho está fora dos limites de segurança.

Efeitos crônicos

A exposição contínua, mesmo a baixas concentrações, pode gerar efeitos cumulativos e danos permanentes:

  • Sistema nervoso central: alterações de humor, dificuldade de concentração, fadiga e perda de memória.
  • Fígado e rins: inflamação e disfunções metabólicas, pois são os principais órgãos responsáveis pela metabolização e eliminação dos solventes.
  • Sistema hematopoiético: no caso do benzeno, por exemplo, pode ocorrer anemia aplástica e aumento do risco de leucemia.
  • Pele: ressecamento, rachaduras, dermatites e aumento da permeabilidade cutânea.

Efeitos específicos

Cada solvente possui características próprias de toxicidade.

  • Benzeno: reconhecido como carcinogênico (câncer hematológico).
  • Tolueno e xileno: afetam o sistema nervoso central e causam fadiga e perda de coordenação.
  • Metanol: pode causar cegueira irreversível.
  • Tricloroetileno: provoca danos hepáticos e renais.

Por isso, a identificação precisa do solvente utilizado e a avaliação dos níveis de exposição é importante para a prevenção de agravos à saúde dos trabalhadores.

Riscos de incêndio e explosão

Além dos efeitos tóxicos, os solventes representam um risco importante de incêndio e explosão, especialmente em ambientes fechados ou mal ventilados.

A maioria deles é composta por substâncias altamente voláteis e inflamáveis, o que significa que liberam vapores capazes de formar misturas explosivas com o ar.

Inflamabilidade

Os solventes orgânicos, em particular, apresentam ponto de fulgor muito baixo, ou seja, podem liberar vapores inflamáveis mesmo em temperatura ambiente.

Exemplos:

  • Gasolina, tolueno, xileno e acetona inflamam com facilidade;
  • Éteres e álcoois podem gerar atmosferas explosivas em poucos segundos.

Fontes de ignição

Os vapores de solventes podem ser inflamados por diversas fontes:

  • Faíscas elétricas e descargas estáticas;
  • Equipamentos sem aterramento adequado;
  • Cigarros acesos ou chamas abertas;
  • Motores elétricos sem proteção antiexplosiva.

Por isso, deve-se seguir as orientações das NR-20 (líquidos inflamáveis e combustíveis) e NR-23 (proteção contra incêndios).

Acúmulo de vapores

Em locais sem ventilação, os vapores mais pesados que o ar tendem a se acumular em áreas baixas, como valas, porões e pisos.

Nessas condições, uma faísca pode causar uma explosão se a proporção for apropriada.

Esse tipo de risco é classificado como atmosfera explosiva, e exige avaliação técnica.

Armazenamento e manuseio seguro

  • Usar recipientes metálicos ou de material compatível, sempre com tampa;
  • Manter afastamento de fontes de calor;
  • Garantir ventilação natural ou exaustão mecânica;
  • Identificar claramente os recipientes com rótulos e pictogramas conforme a NR-26 e o Sistema Globalmente Harmonizado (GHS).

Em resumo, o controle do risco de incêndio e explosão exige engenharia, organização e conscientização. O simples descuido de deixar um recipiente aberto ou uma lâmpada inadequada pode ser suficiente para gerar um acidente de grandes proporções.

Medidas de prevenção e controle

A prevenção dos riscos associados ao uso de solventes deve ser tratada como uma prioridade em qualquer ambiente de trabalho. O objetivo é eliminar ou reduzir a exposição por meio de ações de engenharia, administrativas e de proteção individual.

Substituição e eliminação

Sempre que possível, o primeiro passo é substituir solventes perigosos por alternativas menos tóxicas ou menos inflamáveis. Essa é a medida mais eficaz, pois elimina o risco na origem. Por exemplo:

  • Substituir o benzeno por tolueno (menos tóxico);
  • Utilizar produtos à base de água em vez de solventes orgânicos voláteis.

Ventilação e exaustão

A ventilação adequada é importante para evitar o acúmulo de vapores inflamáveis ou tóxicos.

  • Ventilação geral: renova o ar do ambiente e dilui os vapores.
  • Exaustão local: remove o contaminante próximo à fonte de emissão, sendo a solução mais eficaz.

Os sistemas devem ser projetados por profissionais qualificados e inspecionados periodicamente.

Procedimentos de trabalho seguro

  • Manter os recipientes sempre fechados quando não estiverem em uso;
  • Evitar o uso de panos ou materiais absorventes contaminados com solventes;
  • Não comer, beber ou fumar nas áreas de manipulação;
  • Treinar os trabalhadores sobre condutas em caso de vazamento, incêndio ou contato acidental.

Sinalização e rotulagem

Todos os produtos devem estar devidamente rotulados, conforme a NR-26 e o Sistema Globalmente Harmonizado (GHS), com indicação de:

  • Pictogramas de perigo;
  • Frases de advertência;
  • Composição e instruções de segurança.
Solventes_ é importante sinalizar
Solventes_ é importante sinalizar

A área de armazenamento deve conter sinalização de risco de inflamabilidade e proibição de chamas abertas.

Controle médico e ambiental

  • Realizar avaliações periódicas das concentrações de solventes no ar, conforme a NR-09;
  • Incluir os trabalhadores expostos no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), conforme a NR-07, com exames clínicos e laboratoriais específicos.

Essas medidas, quando integradas, formam um sistema de gestão de segurança química capaz de reduzir significativamente o risco de intoxicações, incêndios e explosões.

Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)

O uso de EPIs é uma medida importante para proteger o trabalhador contra os riscos residuais que permanecem mesmo após a adoção de controles de engenharia e medidas administrativas.

No caso dos solventes, os EPIs atuam principalmente na proteção das vias respiratórias, da pele e dos olhos, prevenindo tanto efeitos locais quanto sistêmicos.

Solventes_ importante usar os EPI indicados
Solventes_ importante usar os EPI indicados

Proteção das mãos e dos braços

As luvas devem ser compatíveis com o tipo de solvente utilizado. Nem todo material oferece a mesma resistência:

  • Borracha nitrílica e neoprene: boas opções para a maioria dos solventes orgânicos.
  • PVC: indicado para hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos.
  • Látex: não recomendado, pois é facilmente permeado por solventes.

As luvas devem ser substituídas regularmente, já que muitos solventes degradam o material sem que o trabalhador perceba.

Proteção respiratória

Quando a ventilação não for suficiente, deve-se usar respiradores com filtros químicos adequados:

  • Cartucho com carvão ativado (classe A) para vapores orgânicos;
  • Máscaras semifaciais ou faciais inteiras, dependendo da concentração e do tipo de solvente.

O uso de respiradores exige treinamento, teste de vedação e manutenção periódica conforme a NR-06.

Proteção ocular e facial

Os óculos de segurança com vedação lateral ou as máscaras faciais evitam respingos acidentais que podem causar irritação ou queimaduras químicas. Em operações com risco elevado (como pintura por spray ou desengraxe), recomenda-se o uso de protetores faciais completos.

Proteção do corpo

O uso de aventais, macacões impermeáveis e botas é necessário em atividades com contato direto com solventes líquidos. As roupas contaminadas devem ser trocadas imediatamente e lavadas separadamente, evitando a reexposição ou contaminação cruzada.

Cuidados na seleção e manutenção dos EPIs

  • Verificar o Certificado de Aprovação (CA) de cada equipamento;
  • Garantir o armazenamento em local limpo e seco;
  • Substituir imediatamente EPIs danificados ou saturados;
  • Registrar a entrega e o treinamento de uso conforme a NR-06.

O EPI não substitui as medidas de controle coletivo, mas atua como uma barreira final de proteção, importante para reduzir o risco individual em atividades com solventes.

Treinamento e conscientização dos trabalhadores

Nenhuma medida técnica é eficaz se o trabalhador não compreender os riscos envolvidos e a importância dos procedimentos de segurança.

Por isso, o treinamento e a conscientização são pilares na prevenção dos agravos à saúde e dos acidentes relacionados ao uso de solventes.

Treinamento inicial e periódico

Todo trabalhador que manipula ou tem contato com solventes deve receber treinamento antes de iniciar as atividades e também de forma periódica, conforme previsto nas NR-01 e NR-09.
Os treinamentos devem abordar:

  • Propriedades e riscos dos solventes utilizados;
  • Formas de exposição e sintomas de intoxicação;
  • Procedimentos seguros de manuseio e armazenamento;
  • Uso correto, limpeza e conservação dos EPIs;
  • Condutas em caso de vazamento, incêndio ou contato acidental.

O conteúdo deve ser adaptado à linguagem e ao nível de escolaridade do público, de forma prática e ilustrada.

DDS e campanhas educativas

Os Diálogos Diários de Segurança (DDS) são uma excelente ferramenta para reforçar, de forma contínua, o comportamento seguro no dia a dia.
Temas que podem ser abordados:

  • “Cuidados com produtos inflamáveis”;
  • “Como identificar sintomas de intoxicação por solventes”;
  • “Por que o uso do respirador é indispensável?”

Campanhas visuais com cartazes, vídeos curtos e demonstrações práticas também ajudam a fixar o conteúdo.

Cultura de segurança

Mais do que transmitir informações, o objetivo é desenvolver uma cultura de segurança. Isso significa criar um ambiente em que todos compreendam que segurança é responsabilidade compartilhada.

Quando o trabalhador entende o motivo por trás de cada medida preventiva, ele passa a agir de forma proativa, identificando riscos e sugerindo melhorias.

Conclusão

Solventes são úteis, mas trazem riscos relevantes: tóxicos, voláteis e inflamáveis.

Prevenir exige abordagem em várias frentes:

  • substitua por opções menos perigosas sempre que possível
  • controle na fonte (ventilação/exaustão) e armazene com critérios
  • padronize procedimentos, rotule e sinalize (GHS/NR-26)
  • monitore ambiente e saúde (NR-09 e NR-07)
  • use EPI adequado como barreira final

No fim, gestão + engenharia + treinamento constroem ambientes mais seguros e reduzem adoecimentos e acidentes.

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